O Brasil chegou a Pequim em condições de protagonizar a melhor Olimpíada de sua história. Se o número de atletas apontados como favoritos correspondesse às expectativas, o País terminaria em posição de destaque no quadro de medalhas. No entanto, a delegação volta para a casa com uma coletânea de choros, amenizada pela participação das mulheres, responsáveis por duas das três medalhas de ouro do Brasil na China.
Bicampeão mundial, João Derly iniciou a série de decepções em Pequim. Eliminado precocemente pelo português Pedro Dias, o judoca chorou e ainda precisou lidar com um caso embaraçoso. Após bater o brasileiro, o lutador europeu, de acordo com a imprensa portuguesa, questionou o caráter do adversário e o chamou de traidor. O caso terminou com um e-mail de desculpas de Dias e panos quentes colocados por Derly.
Se o bicampeão do mundo decepcionou, a brasiliense Ketleyn Quadros surpreendeu e iniciou a série de mulheres brasileiras no pódio dos Jogos Olímpicos de Pequim. Com o bronze na categoria até 57 kg, ela se tornou a primeira atleta do País a conquistar uma medalha em prova individual. No judô, os brasileiros Leandro Guilheiro e Tiago Camilo também terminaram no terceiro lugar.
Assim como o judoca João Derly, Diego Hypólito desembarcou na China como favorito ao título. Bicampeão mundial no solo, ele errou o último movimento de sua apresentação em Pequim. Desde que se levantou, o atleta viveu os momentos mais dramáticos de sua vida. Com lágrima nos olhos, ele pediu desculpas ao povo brasileiro. Depois de passar um dia trancado no quarto, voltou a falar para tentar afastar a pecha de "amarelão".
Das 15 medalhas conquistadas pelo Brasil durante a disputa dos Jogos de Pequim, a mais inesperada foi o bronze de Fernanda Oliveira e Isabel Swan, na classe 470 da vela. Com o primeiro lugar na regata da medalha e o terceiro no geral, a dupla brasileira surpreendeu a todos e fez história. As duas foram as primeiras mulheres a subir no pódio na história da vela brasileira nos Jogos.
Diferente da dupla de velejadoras, Dunga e seus comandados chegaram a Pequim sob forte pressão e expectativa. A caminhada da Seleção de futebol masculino rumo ao ouro inédito parou na Argentina, na semifinal dos Jogos Olímpicos. Após perder dos arqui-rivais, o meia Ronaldinho, uma das maiores estrelas da competição, passou a noite chorando no refeitório da Vila Olímpica.
No time feminino, a camisa 10 foi vestida pela talentosa Marta. Comandada pela melhor jogadora
do planeta, a equipe bateu adversários expressivos, como Noruega e Alemanha. Na final diante dos Estados Unidos, no entanto, a entrega das 11 mulheres do Brasil não foi suficiente para garantir o outro. Após um jogo emocionante, decidido na prorrogação, elas ficaram com a prata. E choraram.
O time de vôlei feminino passou os últimos anos convivendo com a fama de tremer nos momentos decisivos. Nas cinco edições mais recentes dos Jogos Olímpicos, a Seleção chegou à semifinal, mas em Pequim disputou a decisão pela primeira vez, e não decepcionou. Com uma atuação irretocável diante das norte-americanas, as brasileiras garantiram o ouro e enterraram a pecha de amarelar.
Depois de ver suas compatriotas conquistarem o ouro inédito diante dos Estados Unidos, o time masculino de vôlei comandado pelo técnico Bernardinho parou no mesmo adversário e fracassou na tentativa de defender o título obtido em Atenas. Na dolorosa derrota que marcou o final de uma das mais premiadas gerações do esporte, os gigantes choraram.
Campeã mundial em 2005, prata nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e quarta colocada nos Jogos de Atenas, Natália Falavigna também chegou como favorita a Pequim, mas soube como lidar com a cobrança e não decepcionou em cima do tatame. A lutadora foi mais uma brasileira a fazer história na China, já que seu bronze foi a primeira medalha do País no taekwondo.
O desempenho de Maurren Higa Maggi nos Jogos veio para coroar uma Olimpíada que será lembrada justamente pela participação das mulheres do Brasil. Por um centímetro, ela conquistou o ouro no salto em distância e se tornou a primeira brasileira a vencer uma competição individual na Olimpíada. Do alto do pódio, a atleta também chorou, mas de pura emoção, assim como o nadador César Cielo, o único brasileiro dourado na China.