Laura Fontana tem 8 anos e está no 4º ano do Ensino Fundamental em Juiz de Fora, Minas Gerais, cidade onde nasceu e mora. Ela sempre gostou de cantar e se apresentar - em festas de Natal e de aniversário em família, fazia suas performances na varanda da casa. Há exatamente uma semana, o público dela cresceu substancialmente. Os vídeos da apresentação de Laura em um programa de calouros, cantando e dançando "Bad Romance", sucesso do ícone pop Lady Gaga, se multiplicaram no Youtube e já passaram de um milhão de visualizações. A "mini Lady Gaga", como passou a ser chamada, repercutiu em sites e blogs internacionais - e Laura passou à próxima fase da competição, além de receber um convite para participar de outros programas de televisão. Com o sucesso, vem a questão: uma criança de 8 anos está pronta para tamanha exposição? Para a mãe de Laura, Ana Cristina, sim. Para as quatro especialistas ouvidas pelo Delas, não.
Segundo a psicanalista Roselene Gurski, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o vídeo é completamente inadequado. De acordo com Roselene, as crianças atualmente carecem de uma "experiência de infância" - "a possibilidade de ter tempo para brincar, encontrando assim a possibilidade de encontrar múltiplos sentidos para suas vidas".
Para a psicopedagoga, é natural que as crianças imitem seus ídolos, sem perceber o que é adequado para a idade delas ou não. Por isso, o papel mais importante é o da família. "A família tem que dar os referenciais e limites", explica.
Despreparo psicológico
Os pais não podem fechar os olhos para a influência dos meios de comunicação, nem subestimar a influência que eles têm sobre a formação infantil. "A criança entra em contato com informações para as quais não está preparada emocionalmente, nem psicologicamente", explica Elisa Araújo, mestre em História Social da Cultura e graduada em Jornalismo pela PUC do Rio de Janeiro e autora do blog "Crianças & Mídia" desde 2008. Assistir à televisão ou navegar na internet sem supervisão expõe a criança a um risco real. Elisa exemplifica: "é como atravessar a rua. Você deixa a criança atravessar sozinha enquanto ela não está preparada?", questiona.
Ela traça um paralelo para explicar a importância da família estar atenta em relação ao que as crianças veem na TV: "os pais precisam ter responsabilidade sobre o que os filhos estão consumindo na mídia, assim como têm responsabilidade sobre o que eles consomem na alimentação".
Proibir resolve?
Ana Cristina Fontana, mãe de Laura e de uma adolescente de 14 anos, acredita que a filha está curtindo a fama repentina. Segundo a mãe, Laura sempre gostou de se apresentar. Depois de muita insistência da menina, ela cedeu e a levou para os testes do programa de calouros. Mesmo assim, não sabia como Laura reagiria no palco: "A gente se surpreendeu com a desenvoltura dela".
Quando seu filho tem um talento natural, e gosta de expressá-lo, uma opção para evitar a expoosição em excesso é matriculá-la em um curso relacionado ao que ela gosta de fazer. "Assim, na época adequada, a criança pode utilizar suas habilidades da forma que preferir", completa Helena, que explica que os adultos podem ceder em algumas situações. "Pais e mães devem ter bom senso e verificar se aquilo vai levar a uma exposição excessiva", aconselha.
Com participações em programas de TV agendadas e um concurso de talentos transmitido em rede nacional pela frente, evitar tamanha exposição não é mais uma opção para Laura.
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